Pesquisa amplia compreensão da percepção ambiental da comunidade da Unicamp

O que a comunidade da Unicamp pensa sobre sustentabilidade? Essa foi a pergunta que guiou uma extensa pesquisa conduzida pela Câmara Técnica de Gestão de Ambiente Urbano (CGTAU) que envolveu os três campi da Universidade e cujos resultados são divulgados agora. Os resultados devem ajudar a construir cenários de futuro pelo Grupo Gestor Universidade Sustentável (GGUS), ligado à Diretoria Executiva para Planejamento Integrado (DEPI), e que encomendou o estudo.

A pesquisa foi coordenada pela Prof(a). Dr(a). Emília Rutkowski, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). Segundo ela, o método escolhido para analisar um fenômeno complexo como é a sustentabilidade foi a cartografia social. “O mapeamento participativo, ou cartografia social, é um processo de produção de mapas cujo objetivo é tornar visível e espacializar a associação entre o território e as comunidades locais utilizando a linguagem da cartografia. Diferentes símbolos, camadas e escalas podem ser utilizados para apresentar a informação espacial. Podem estar relacionadas a informações detalhadas de determinado local e, portanto, em menor escala, ou compreender uma área maior (e.g., bacias hidrográficas, áreas verdes, etc.), descrevem os autores do relatório final da pesquisa. Ainda de acordo com os autores, o método da cartografia oferece uma representação social e culturalmente distinta, com informações que não aparecem em mapas padronizados. Os mapas gerados a partir de oficinas de discussão oferecem uma ligação entre a localização e as percepções vividas in loco. “Nas oficinas, cada participante apresenta seu entendimento quanto ao espaço vivido, em diálogo com diferentes percepções. É um método que estimula o envolvimento da comunidade, o pensamento crítico e a ação coletiva, uma vez que permite o compartilhamento de experiências individuais e coletivas”, escreveu.

Além disso, para fazer o reconhecimento de padrões de uso e apropriação dos espaços, em todas as oficinas foi utilizada a legenda do Green Map System, um sistema aberto e padronizado de ícones que serve para identificar lugares potencialmente sustentáveis ou desafiantes para a sustentabilidade. “O uso casado da cartografia social com o Green Map System permitiu a construção de mapas verdes. Os ícones do sistema Green Map foram adaptados para o contexto da universidade e dispostos em três eixos: “Modo de vida sustentável”, “Natureza”, “Cultura&Sociedade” e “Riscos e Desafios”. Cada eixo foi dividido em subtemas.

Cultura – Dentro do eixo Cultura, o mapeamento participativo buscou saber a percepção dos participantes sobre, por exemplo, locais de encontro e de estudos, locais amigáveis para idosos, para crianças, bibliotecas etc. E ainda sobre a existência de serviços públicos de infraestrutura de energia, hospitais, pontos de referência, quiosques de informação e estações de tratamento de esgoto. Sobre os locais de estudo no campus da Unicamp em Barão Geraldo, a cartografia social identificou que há quatro manchas mais fortes, sendo a primeira a Biblioteca Central, a segunda, os vários institutos de ciências puras, como o IEL, o IFGW, IQ e o Imecc. A terceira mancha é a FEEC, onde há um corredor de estudos aberto 24 horas. O quarto local é o Ciclo Básico. Em Limeira, foram mapeados dois pontos como locais de encontros sociais na Faculdade de Tecnologia e em Piracicaba, um ponto na área esportiva que fica na parte de trás do campus da Faculdade de Odontologia da Unicamp.

Um dos mapas gerados no projeto Cartografia Social, mostra resultados do eixo sobre cultura.

Já no ícone “Alimentação Saudável”, que compõe o eixo “Modo de vida sustentável”, foram apontados os três restaurantes universitários, a cantina do IA e a Feira da Praça do Ciclo Básico. No Cotuca foi apontada a cantina do colégio e no CPQBA, outros dois pontos.

Mobilidade – Em relação aos ícones “Ciclovias/Bicicletário”, ligados ao eixo “Modo de vida sustentável”, os participantes das oficinas indicaram três locais de presença mais forte desse tipo de infraestrutura: ao redor do Ciclo Básico, na FEF e na Avenida Professor Atílio Martini, fazendo ligação com a Moradia. Ainda em relação ao tema da mobilidade, o local mais apontado como uma zona de precaução – local de tráfego motorizado intenso, com risco para pedestres, bicicletas e outros veículos não motorizados – foi o balão da Avenida Atílio Martini, próximo à FEF, devido ao seu desenho inadequado.

A percepção dos participantes das oficinas é que há perigo nos locais onde há pouca iluminação, em locais vazios e naqueles onde geralmente já se sabe que ocorrem assaltos. Nos prédios mais isolados do campus, a sensação de risco é maior. No campus da Unicamp, o local apontado com o mais perigoso é a entrada pela Casa do Lago e o segundo, a área hospitalar. Locais considerados mais seguros foram as áreas próximas à Reitoria e a área interna da FEF.

A DEPI, através da equipe técnica do Programa de Georreferenciamento do Acervo Físico e Humano da Unicamp (DEPI-GEO), organizou um banco de dados geográficos com todas as informações coletadas nas oficinas e elaborou um dashboard (aplicativo web), com todas as informações classificadas e disponibilizadas em mapas interativos (web maps) conectados de forma dinâmica a gráficos que quantificam a distribuição de cada ícone. O dashboard pode ser acessado em aqui.

“Os resultados das oficinas de cartografia social configuram uma nova fonte de dados acerca dos campi da Unicamp. Por um lado, os dados técnicos existentes ou produzidos academicamente revelam circunstâncias e situações encontradas no espaço físico. De outro, o trabalho realizado no Projeto de Cartografia Social viabiliza uma maior compreensão da percepção ambiental dos usuários deste espaço. Esta leitura diferenciada dá luz ao seu modo de uso, seus conflitos, dificuldades e propostas sob o ponto de vista daqueles que cotidianamente produzem impressões, opiniões e sugestões para este espaço comum”, descreve o relatório final do projeto.

 Por Patricia Mariuzzo

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