Unicamp é uma das universidades mais sustentáveis do Brasil

A Unicamp ficou em quarto lugar no UI GreenMetric World University Ranking entre as universidades brasileiras. O resultado foi divulgado na última terça-feira (03/12) pela Universitas Indonesia que criou o ranking em 2010 com objetivo de classificar as universidades de todo o mundo a partir de indicadores de sustentabilidade. No Brasil, 28 universidades participam do ranking atualmente. A USP ocupa o primeiro lugar, seguida pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e pela Universidade Positivo, instituição privada com unidades em Curitiba e Londrina, no Paraná.

No ranking mundial, que avaliou 780 universidades, a Unicamp está entre as 100 instituições mais sustentáveis, no 80º lugar. “Ficamos na 4ª posição no ranqueamento nacional e em 80ª no mundial. Acredito que seja um verdadeiro reflexo do nosso contexto. É preciso considerar que os indicadores se referem apenas ao campus Zeferino Vaz. Os próximos passos incluem aperfeiçoar a coleta dos dados que compõem os indicadores, incluir todos os campi, definir metas a partir da análise dos indicadores de 2019 e melhorar a sustentabilidade nos campi da Unicamp nos próximos anos”, afirmou a arquiteta e urbanista da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (DEPI), Thalita Dalbelo, representante da Unicamp junto ao UI GreenMetric (veja entrevista ao final do texto).

A posição final no ranking é a soma da pontuação dos indicadores de sustentabilidade coletados em seis categorias: paisagem e infraestrutura, energia e mudança climática, resíduos, água, transporte e ensino e pesquisa.

Os indicadores de “paisagem e infraestrutura”, por exemplo, avaliam a situação da universidade em relação às construções, áreas verdes e população do campus. As universidades mais sustentáveis são as que possuem mais áreas abertas, permeáveis e com florestas. Entre os indicadores dessa categoria estão a relação da área de espaço aberto em relação à área total, área do campus com cobertura florestal, área para absorção de água e orçamento da universidade para um esforço sustentável. Já a categoria “energia e mudança climática”, responsável por 21% da pontuação total, traz indicadores relacionados ao uso de energia renovável, de equipamentos eficientes, construções ecológicas, entre outros. Nesse caso, espera-se que as universidades intensifiquem seus esforços na direção de maior eficiência energética.

Uma das categorias em que a Unicamp obteve um bom resultado foi “resíduos”, que tem como foco o tratamento e reciclagem de resíduos diversos. Para Dalbelo isso é resultado de ações já em curso na Universidade, como por exemplo o Programa Institucional de Gerenciamento de Resíduos Biológicos, Químicos e Radioativos da Unicamp, aprovado pelo Consu em 2003. Além disso, em 2016 o Plano de Gestão de Resíduos foi revisado pela Câmara Técnica de Gestão de Resíduos, ligada ao Grupo Gestor Universidade Sustentável (GGUS). Há também o Programa de coleta e controle da destinação de resíduos, coordenado pela Divisão de Meio Ambiente (DMA), da Prefeitura do campus.

Para o diretor da DEPI, professor Marco Aurelio Pinheiro Lima, a importância do resultado é trazer um diagnóstico da situação da Unicamp hoje: “A partir desses indicadores estabelecer ações para melhorar”. Essa também é a opinião do professor José Antonio Rocha Gontijo, chefe de gabinete da reitoria da Unicamp: “Foi muito boa a notícia do reconhecimento da Unicamp como uma das melhores posicionadas no GreenMetric logo na primeira aplicação e com indicadores seguramente auditáveis. Além de comemorar o posicionamento, o importante agora é definir novas metas, corrigir, ampliar e qualificar nossos indicadores”, afirmou.

Boas práticas – Com objetivo de disseminar a metodologia do GreenMetric e favorecer a troca de experiências sobre boas práticas na área de sustentabilidade, a Universitas Indonesia organiza workshops locais para reunir as universidades que participam do ranking em cada país e para incentivar a adesão de mais instituições. Em agosto do próximo ano, a Unicamp vai sediar 4th National Workshop on Ui Green Metric World University Rankings for Brazilian Universities 2020. “As universidades brasileiras que estão nas melhores posições em 2020 melhoraram suas pontuações  em relação ao ano passado. Podemos aprender muito com elas, principalmente no evento que ocorrerá aqui – 24 e 25 de agosto de 2020”, disse Dalbelo. “Estamos organizando a análise dos indicadores para um plano de ação e todas as contribuições são muito bem-vindas”, finalizou.

Em setembro de 2019, Thalita Dalbelo passou a representar a Unicamp junto ao UI Green Metric

Entrevista Thalita Dalbelo

Representante da Unicamp junto ao UI Green Metric, a arquiteta e urbanista, Thalita Dalbelo, que também é coordenadora do Plano Diretor da Unicamp, fala sobre os desafios da Unicamp para subir de posição no ranking de sustentabilidade.

Como surgiu a iniciativa de entrar nesse ranking e qual a importância dele?

Em 2019, o Plano Diretor Integrado, em busca de mensurar a sustentabilidade dos campi da Universidade para criar planos de melhoria, encontrou no sistema de ranqueamento UI GreenMetric um bom mecanismo para avaliar e medir nosso panorama em relação à sustentabilidade universitária, transversalizar a sustentabilidade na Unicamp, estabelecer uma comparação entre as demais universidades participantes e, principalmente, para estabelecer metas pontuais de melhoria. A importância do sistema de ranqueamento não está na concorrência entre universidades, mas na troca de experiências, análise crítica e na busca de melhores resultados.

Como foi o processo de coleta de dados? Qual foi o principal desafio nesse processo?

O processo de coleta de dados para elaboração dos indicadores do sistema UI GreenMetric envolveu a formação de um Grupo de Trabalho, composto por representantes da DEPI, da Prefeitura do Campus, do NEPAM, da Unitransp, do Escritório Campus Sustentável, das Pró-Reitorias de Graduação, Pós-graduação e de Pesquisa e da CGU. Foi um processo com muitos desafios: muitos indicadores precisam de dados específicos de unidades e órgãos para serem elaborados e esses dados não estão disponíveis em plataformas ou concentrados em um banco de dados específico. Foi necessário solicitar informações a cada uma das unidades. Muitas responderam, mas as que não enviaram as respostas certamente poderiam ter feito a diferença no indicador final. Outro grande desafio foi o entendimento sobre a sustentabilidade, pois não há um conceito único que a defina.

Qual a razão de não incluir os campi de Limeira, Paulínia e Piracicaba?

Para esse ano, os indicadores elaborados consideraram dados apenas do campus Zeferino Vaz porque é o campus que tem mais dados disponíveis e, ainda assim, muitos deles precisaram ser gerados especialmente para esse trabalho. Possuímos muito poucos dados dos demais campi e esse é outro grande desafio para os próximos anos: integrar todos os campi ao sistema de ranqueamento UI GreenMetric.

O resultado ficou dentro do esperado?

De acordo com a estimativa inicial, a pontuação final da Unicamp ficou dentro do esperado. Imaginávamos que, com essa pontuação, fossemos conseguir melhor posicionamento, mas o que percebemos foi que as demais universidades participantes, progrediram bastante em relação ao ano passado.

Quais os próximos passos?

A busca por melhores indicadores de sustentabilidade na universidade deve ser contínua. Temos duas questões a serem trabalhadas: a coleta de dados deve ser mais precisa, abrangente e dinâmica e, agora que sabemos a situação em que a universidade está, devemos fazer um plano de ação para melhorar. Nos dois casos, é imprescindível a integração de toda a comunidade da Unicamp. Os técnicos entendem os principais problemas dos campi, os docentes e pesquisadores têm as soluções mais atualizadas e os alunos, a criatividade necessária para as propostas de melhoria. É necessário tornar o tema transversal para que a Unicamp seja uma universidade sustentável: desde o conceito de sustentabilidade, passando por uma plataforma centralizada de dados e até um plano de ação que envolva toda a universidade. Continuaremos a submeter nossos indicadores em sistemas de ranqueamento e a propor ações de melhoria. Mas também é necessário apoio da administração, dos usuários, docentes, pesquisadores, funcionários e alunos.